terça-feira, 5 de abril de 2011

O MEL E A SUA UTILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE FERIDAS







O tratamento de feridas tem vindo a assistir a uma evolução cada vez maior,
quer em termos de sofisticação, quer em termos de velocidade a que surgem estas
novidades terapêuticas. No entanto, nem só no futuro está a solução. Explicando
melhor, existem agora evidências científicas que nos permitem acreditar que produtos
anteriormente utilizados com resultados positivos, mas sem explicação plausível, que
não empírica, possam agora ser utilizados de forma efectiva. O mel, entre outros, é um
deles.
O mel tem sido utilizado pelo Homem, à mais de 2000 anos, nas mais variadas
formas de aplicação e com os mais diferentes objectivos inerentes à sua utilização. O
tratamento de feridas não foge à regra e  existem descrições da sua “prescrição” por
xamãs nas mais variadas tipos de tribos
1
 A sua utilização nunca deixou de existir, mas .
nos anos mais recentes assistiu-se a um renascer do interesse pela utilização do mel no
tratamento de feridas, assim como pelo interesse na terapia larvar.
A primeira referência da utilização do mel como elemento no tratamento de
feridas surge em 2000 AC, no Egipto (Gelbart, 1999, citado por Dunford et al, 2000).
Também Naylor (1999), citado por Dunford  et al (2000), refere que existe um
documento datado de 1392, sobre procedimentos no tratamento de feridas, nos quais se
inclui a utilização de mel. Cavanagh et al (1970) confirmou as propriedades positivas da
utilização do mel no tratamento de feridas, em 12 casos de pacientes sujeitas a
vulvectomia, referindo fundamentalmente as propriedades não irritantes e o facto de ser
muito mais efectivo do que os antibióticos tópicos
2
 .
 Mais recentemente, estudos realizados por Efem (1988, 1993) e Subrahmanyam
(1991, 2004) confirmaram as propriedades  particulares do mel, com repercussão
positiva na cicatrização de feridas e úlceras não cicatrizantes
3,6
, na velocidade de
cicatrização em feridas resultantes de gangrenas de Fournier
4
 e comparativamente à
utilização da sulfadiazina de prata em queimaduras, revelou ser duas vezes mais rápido
o aparecimento de tecido de granulação revelar menor dor
5
  . Todavia, a ênfase principal do recrudescimento da utilização do mel no
tratamento de feridas reside nas suas propriedades antimicrobianas, sendo cada vez mais
o número de publicações que comprovam a sua eficácia
7,8,9
 De facto, tem-se verificado .
que o mel apresenta bons resultados no tratamento de feridas infectadas e queimaduras,
que se atribui a propriedades específicas do mel, contribuindo decisivamente para inibir
o crescimento bacteriano e promover a cicatrização de feridas
10
 As propriedades que .
falamos que são:
- Elevada viscosidade
- Ph ácido
- Factor de inibição
- Elevada osmolaridade
- Conteúdo nutritivo
Também deve ser tido em conta as vantagens no processo cicatricial da ferida e
em termos económicos da utilização do mel no tratamento de feridas
11
, que segundo
Molan (1999) são:
Vantagens na ferida
- Fornece uma barreira protectora para prevenir infecções cruzadas
- Cria um ambiente antibacteriano de cicatrização em ambiente húmido
- Elimina rapidamente bactérias infecciosas, incluindo estirpes antibiótico-resistentes
- Tem um efeito de desbridamento, e a sua acção osmótica causa drenagem de linfa,
libertando detritos do leito da ferida
- Remove rapidamente o mau odor
- Acelera a cicatrização através da estimulação do tecido de regeneração
- Previne a formação de uma má cicatriz e hipertrofias cutâneas
- Minimiza a necessidade de enxertos cutâneos
- É não aderente e desta forma minimiza o trauma e dor entre durante as mudanças de
pensos
- A sua acção anti-inflamatória reduz o edema
- Não tem efeitos adversos nos tecidos da ferida
Vantagens económicas
- Redução dos custos com materiais de penso e agentes antimicrobianos - Cicatrização mais rápida;
- Evitar o desbridamento cirúrgico;
- Evitar enxertos cutâneos;
- A facilidade de utilização permite aos pacientes tratar a sua ferida em casa, reduzindo
assim os custos com a enfermagem.
 Mais recentemente, Dunford et al (2000), enumerou as desvantagens da
utilização do mel no tratamento de feridas, tendo considerado para tal as seguintes
12
 :
- Torna-se mais fluido a elevadas temperaturas, pode liquefazer-se à temperatura
ambiente da ferida;
- O risco de liquefação limita-se ao leito da ferida, possível necessidade de prevenção de
extravasamento;
- Preparação de pensos impregnados é difícil e não estéril;
- Risco remoto de botulismo relacionado com mel não esterilizado;
- Em alguns pacientes, uma sensação de picada pode causar desconforto.
Parece-nos que, das desvantagens enumeradas por Dunford et al (2000), e tendo
em consideração o espaço temporal que decorreu desde então, os actuais penso
impregnados com mel, apresentam-se estéreis e conseguiram suprir essa desvantagem
apontada.
APLICAÇÃO PRÁTICA
 Em termos de aplicabilidade prática, torna-se importante avaliar a sua
efectividade, quer em termos de evolução  do processo cicatricial, quer em termos de
ganhos em saúde para o doente. Assim,  realizaram-se 3 estudos de caso com um
produto à base de mel, na apresentação de uma compressa não aderente impregnada em
mel.
 O caso nº 1 reporta-se a um utente do sexo feminino, 70 anos, reformada,
apresentava uma úlcera de origem venosa na região supramaleolar do membro inferior
esquerdo, com uma duração de 1 ano, multitratada com outras opções de tratamento
sem sucesso. Iniciou tratamento com compressa não aderente impregnada com mel a
20/6/06 (foto nº 1), apresentando como dimensões (CxL) igual a 0,25 cm2
, bordos com
sinais inflamatórios, presença de fibrina sob a forma sólida, tendo-se colocado a
hipótese de se encontrar criticamente colonizada. Após realização de IPTB, verificou-se
que a úlcera era de origem venosa, tendo sido associada terapia compressiva de curta
tracção. A realização dos pensos foi agendada inicialmente de 3/3 dias, e na 1ª mudança de penso (23/6/2006), a ferida já não apresentava bordos com sinais inflamatórios,
assim como os mesmos se apresentavam de forma mais uniforme, embora mantendo as
dimensões da ferida (foto nº 2), após o que se espaçou a realização de penso semanal. A
21/7/2006, a ferida apresentava-se totalmente cicatrizada (foto nº 3), tendo nunca tendo
a paciente de alterar a suas rotinas de vida devido ao facto da úlcera de perna lhe doer
ou provocar algum tipo de constrangimento,  tendo inclusivamente referido após o 2º
penso uma diminuição substancial da dor que apresentava no inicio do tratamento.
 O caso nº 2 refere-se a um utente do sexo feminino, 54 anos, auxiliar de acção
médica, apresentava uma úlcera de perna de origem venosa na face interna do 1/3 médio
do membro inferior com 2 semanas de duração. No início do tratamento (28/6/2006) a
ferida apresentava como dimensões (CxL) uma área de 3 cm2
, bordos não uniformes,
com presença de fibrina no leito da ferida firmemente aderente, apresentando um rubor
em expansão às 5 horas (foto nº 4). A dor  referida pela utente era classificada como
importante (Esc. Numérica- 8). O tratamento escolhido foi uma compressa não aderente
impregnada com mel como penso primário,  sendo o penso secundário constituído por
gaze tecido não tecido A este tratamento  foi associada terapia compressiva de curta
tracção. A troca de pensos foi estabelecida de 3/3 dias. No dia 8/7/2006, a ferida
apresentava melhorias muito substanciais (foto nº 5), com dimensões de 1,5 cm2
 ,
ausência de rubor em qualquer direcção, 100% de tecido de granulação e ausência de
dor referida pela paciente. O penso foi  espaçado para uma frequência semanal e a
7/8/2006 (foto nº 6), a ferida apresentava-se cicatrizada.
 O caso nº 3 reporta-se a uma utente  de 74 anos, diabética tipo 2 à 3 anos,
reformada, apresentando uma úlcera de perna de origem traumática, com uma duração
de 2 semanas, resultante de um ferimento com um animal doméstico (grande
probabilidade de se encontrar infectada), sendo que os pensos eram realizados pela
própria no seu domicilio, sem evolução positiva. No início do tratamento (26/9/2006), a
ferida apresentava-se com o leito da ferida limpo em cerca de 80%, apresentando zonas
de deposição de detritos orgânicos na zona central da ferida (foto nº 7). A dor referida
pela utente era classificada como 6 (Esc. Numérica). A frequência inicial dos
tratamentos foi de 3/3 dias, tendo sido aplicado uma compressa não aderente
impregnada com mel como penso primário,  sendo o penso secundário constituído por
gaze tecido não tecido. Não foi implementada qualquer tipo de terapia compressiva.
A 20/10/2006, a ferida tinha aumentado as suas dimensões (área = 1,3 cm2
), mas
todo o leito se apresentava com tecido de granulação e a paciente não referia já qualquer dor (foto nº 8). A partir deste dia, iniciou trocas de penso a cada 5 dias. A 16/11/2006, a
ferida apresentava-se cicatrizada (foto nº 9).
CONCLUSÃO
Como podemos assistir, em todos os casos apresentados verificou-se uma
evolução positiva, permitindo confirmar as propriedades do mel, sob a forma de
compressa não aderente impregnada com mel. Assim, foi possível verificar que as
propriedades atribuídas ao mel por White e tal (2005), como sejam as propriedades antiinflamatórias, o combate à infecção, o controle do odor intenso, a função barreira, a
facultação de um ambiente  de cicatrização óptimo, a função de desbridante, a
estimulação da cicatrização assim como a  segurança na utilização, se encontram
presentes neste tipo de material de penso
13
  .
Desta forma, através da aplicação de  um produto, podemos actuar em várias
vertentes, permitindo obter ganhos importantes em saúde, mas que não deve ser
utilizado como algo “milagroso”. De facto, este produto, como outros, deve obedecer a
critérios de utilização e torna-se essencial avaliar as características da ferida que se quer
tratar, assim como os objectivos que se pretendem atingir, seja a cicatrização total, ou
numa situação paliativa, a diminuição da dor ou do risco de a ferida infectar.

fonte (Centro de Saúde da Pampilhosa da Serra)


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